quarta-feira, 23 de maio de 2007

Como Xadrez



Nesse tempo de aparente insensatez, às vezes, nos vemos como que em um jogo onde as regras já estão postas e só nos resta obedecê-las sem mais discussões ou questionamentos, se assim não o fizermos, talvez, todos os processos estarão comprometidos. A regularidade cederá lugar ao inesperado e o projeto cederá lugar ao improviso o que tornará a vida bem mais complicada do que ela é. Cedemos então lugar ao projeto e à regularidade caindo nas garras cruéis da monotonia.

Creio que a nossa vida se assemelhe a uma partida de xadrez, um jogo que não combina com o nosso tempo, é muito monótono, muito parado. E aqui se lança um paradoxo: “como a vida pode ser monótona no turbilhão veloz que nos envolve dia-a-dia?”

Acredito que a resposta pode ser tirada de uma partida de xadrez. Mesmo sendo um enxadrista mirim, aprendi que há duas maneiras básicas de se encarar o mesmo jogo.

Você pode iniciar uma partida e em poucos instantes estará fazendo movimentos rápidos para proteger o seu rei de seu oponente. Em meio a esses movimentos você observará que as peças que lhe são mais importantes vão sendo uma a uma tomadas na batalha, seu exército reduzido e seu rei cada vez mais vulnerável até que tombe cabalmente com um sonoro Xeque-mate. A partida se tornou para você uma sucessão de movimentos impensados, apenas reflexos, sem estratégia alguma possível que lhe tirasse da difícil situação de somente se defender, sem muita esperança de poder atacar com sucesso e apesar de toda a movimentação aparente o que reina é a monotonia.

Mas há também a possibilidade de se entrar na mesma partida com uma visão diferente, ou seja, entendendo o campo da batalha, conhecendo cada uma das peças que pertence ao seu exército, sabendo dos movimentos possíveis para cada uma delas e colocando-as ao seu serviço para alcançar o alvo definitivo: fazer tombar o rei adversário. Os movimentos tornam-se em passos estratégicos onde avançar nem sempre é o melhor a fazer, onde o tempo para se planejar adquire outro significado, onde a defesa é pensada e não um reflexo involuntário e nesse caso, apesar da aparente lentidão dos movimentos o que reina é a dinâmica.

Por isso como xadrez! No tabuleiro das nossas vidas, o que está em jogo são as vidas de nossos amigos não cristãos. Tirá-los da influência do rei deste mundo é nossa tarefa. Não se trata de uma sugestão e sim , de uma ordem de nosso Rei que nos dará todo o apoio necessário para cumprirmos bem nossa tarefa com sucesso. Pode ser que um observador menos atento ache uma partida de xadrez monótona e sem sentido e pode ser que um cristão menos atento ache que não vale a pena entrar em uma partida onde as peças são aparentemente inconquistáveis pois pertencem a um reino poderoso, e nesse campo ele pense ter pouca influência, mas não deve ser assim.

Nosso desafio é aprender a encarar nossa vida, como campo onde a missão pode e deve ser exercida por agentes que se dispõe a ser canais da dinâmica do Espírito e desenvolver estratégias eficazes que transportem pessoas, nossos amigos, do reino das trevas para o reino da luz.

Disponibilize-se para Deus, permita que Ele te transforme no melhor agente que Ele tem em campo e execute com garra e alegria o próximo passo da missão.

Deus nos abençoe e nos de sabedoria !!!

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Impressões

Osasco, 17 de maio de 2007.


Impressões


Como disse o dono do serviço, o patrão, “quem põe a mão no arado...” tem serviço e profissão e não dá pra ficar olhando pra trás pensando que poderia ter posto a mão em algum lugar melhor. O fato é que não há melhor lugar para se estar segurando.
Não me refiro aqui somente aos chamados “ministros profissionais”, mas também, a todos aqueles que têm sido atraídos por Deus para colocar as mãos no arado de Seu filho e trabalhar no serviço mais divertido, perigoso, estimulante e ao mesmo tempo, algumas vezes frustrante, que é o de lançar a semente, regar e cuidar dela até que possa frutificar. Deixando as metáforas de lado quero dizer: pregar a Boa-notícia a respeito de Cristo, cuidar dos novos e ensiná-los até ao ponto deles próprios assumirem-se a si mesmos e a outros, continuando assim o trabalho.
Dessa maneira entendo aquela conversa de Jesus com Nicodemos, certa noite, quando falou alguma coisa sobre o vento e sua semelhança com o Espírito. “O Nica não entendeu nada”, na linguagem da meninada, “fico boiano” quando Jesus disse a ele “olha aqui rapaz (minha paráfrase) você pode sentir o pneuma, mas não pode dizer de onde o pneuma vem, bem como só pode ouvir a voz do pneuma e sentir o toque do pneuma, assim não pode aprisioná-lo para si como se fosse sua propriedade, porque o pneuma vai pra onde quer, e concluiu, assim é todo aquele que nasce do pneuma de Deus. Troque-se a palavra pneuma por vento.
Deixando a exegese profunda de lado, que o Sheddão (Dr.Shedd) não leia isso, Jesus explicava a Nicodemos a aventura que é estar no meio dessa “ventania santa” e ao mesmo tempo o convidava para que pudesse desfrutar de tal experiência. Se ele aceitou o convite não há provas conclusivas a respeito, mas não é o caso.
O caso é: Não podemos criar ou colocar o Espírito nas pessoas, pois não sabemos como Ele quer fazer, porém podemos criar talvez algumas condições que sejam, volto a dizer talvez sejam, favoráveis à Sua atuação. Contudo, precisamos de algo que só o Espírito pode criar em nós, ou seja, a disposição de vivermos a maior das aventuras; conduzir pessoas perdidas de Deus e Seu filho para um encontro pessoal com ambos e isso envolverá muitas vezes, perigos, estresses, chateações, medos e coisas assim, mas também a alegria de poder ver uma nova criatura sendo gerada e parida, já não mais só criatura, agora sim um filho de Deus de verdade e isso é simplesmente maravilhoso.
Tenho tentado balizar minha atuação como discípulo de Cristo neste mundo tenebroso desta maneira.
Onde estou hoje plantado, colocado, escondido, use a palavra que quiser, em meio a universitários, segundo alguns, a nata brasileira da universidade brasileira a USP, tenho sido um deles, tenho estado com eles e tenho tentado aprender com eles sobre seus sonhos, projetos, anseios, temores, frustrações. E ao contrário do que se pensa, esses jovens, jovens a menos tempo do que eu, possuem ideais muito elevados mas um completo desconhecimento das possibilidades e dos “tesouros escondidos em Cristo”.
Caímos então em uma questão muito antiga: “Como conhecerão se não há quem pregue? E como pregarão se não forem enviados?”.
Alguém pode dizer ou pensar; o problema é de muito fácil solução, deve-se tão somente enviar um missionário lá e pronto.
Então sou obrigado a dizer que a solução não é tão simples o quanto parece!
Tenho observado que aqueles que tenho acompanhado são “gente boa”, mas são também ensimesmados, se é que posso usar desse neologismo, não aceitam que qualquer um lhes dirija a palavra, pois se acham superiores, não aceitam ouvir sobre uma verdade que há muito não faz parte dos círculos acadêmicos, a não ser para servir de exemplo negativo de como não se deve fazer as coisas, porque na cabeça deles, cristianismo já é uma ideologia ultrapassada pela ciência e agora o homem é a medida de todas as coisas, ou talvez na melhor das hipóteses, uma religião ocidental.
O que fazer então para alcançar esse povo?
Tenho algumas sugestões:
· Fazer parte do conjunto com eles, ser aluno como eles. Isso propicia o argumento de que os “crentes” não são tão alienados assim.
· Construir amizades sólidas e verdadeiras com eles baseadas na confiança mútua. Eles precisam sentir que são importantes para nós como pessoas e não como possíveis adeptos de nossa “seita”.
· Evitar o julgamento verbal imediato das suas ações, isso é muito difícil, porque nós crentes, fomos criados em um ambiente de constante policiamento e repressão baseados nos valores e tradições que herdamos para o nosso modo de praticar a fé, deixar que as palavras de Jesus sejam o juiz é o mais importante.
· Estar disposto a ouví-los produz maior resultado do que o afã de querer sempre falar. Esse pessoal tem uma perspicácia tremenda e a todo tempo julga nossas ações mais do nossas palavras.

Por fim quero terminar relatando uma experiência vivida comigo e uma colega cuja qual chamarei de Vitória, esse nome adjetivo calha bem com história de vida dela, uma história que pode e deverá ser completamente vitoriosa, essa é minha oração, quando o Espírito lhe sacudir com a ventania esclarecedora sobre quem é Jesus.
Bem, vamos à história!
Estávamos em uma reunião de trabalho num sábado qualquer, quando surgiu a necessidade de se preparar o almoço. Embora estivéssemos em um bom número de pessoas talvez dezessete, ninguém se prontificou a prepará-lo, todos queriam participar da reunião que, diga-se de passagem estava muito interessante e produtiva, dentre as várias alternativas propostas, a de se fazer uma vaquinha para comprar o “rango” foi a melhor aceita e então decidimos que o almoço seria um churrasco regado ao máximo de cervejas que o bolão pudesse comprar, sobrou até dinheiro para comprar um pequena garrafa de vinho.
Quando compramos todos os apetrechos para a tal empreitada, surgiu outra dificuldade, isto é, quem iria preparar a carne? Como ninguém, mais uma vez se ofereceu, percebi uma ótima chance de serví-los, não somente com alimento mas sim como se estivesse a lhes lavar os pés e dessa maneira fui para a cozinha.
O cheiro da carne sendo assada começou, acho eu, fazer algum efeito sobre aqueles jovens que haviam se esquecido de mim, parece nome de filme, ao ponto de um deles, a Vitória, foi incumbida pelo grupo de vir saber se eu precisava de alguma coisa.
- Libério?! Tá precisando de ajuda?
- Não, disse eu,. está tudo sobre controle, qualquer coisa eu chamo os bombeiros.
- O cheiro da carne tá bom e a galera tá ficando ouriçada.
- Quando estiver pronto eu chamo o pessoal, respondi, valeu?
- Valeu! Posso te fazer uma pergunta sem querer ofender? Ela disse.
- Claro! Respondi.
- Você é mesmo um pastor com o pessoal falou?
- Porque você não acredita? Retruquei.
- Não, não é isso!-disse ela- É que a maioria dos pastores que eu conheço não estaria disposto a gastar o tempo com a gente, você sabe, a galera, a gente fala palavrão, um monte de bobagens, o pessoal fuma a doidado, às vezes até maconha e você fica tranqüilo sem recriminar, eu acho até que a turma exagera um pouco só pra te provocar e você fica na sua.
- Então eu disse: É que você não conhece tantos pastores assim e além do mais o importante é que a pessoa que me lidera me ensina a aceitar vocês como vocês são, pois é Ele que tem poder e autoridade para fazer esses julgamentos não eu.
- Você vai falar de Jesus? - Ela me interrompeu.
- É isso mesmo é Ele quem me ensina a conviver com vocês. Respondi.
Então ela me relatou algo interessante:
- É uma coisa esquisita, tenho um colega lá na Geo, Faculdade de Geografia, que diz que aceitou Jesus, não sei bem se é essa a maneira de falar, mas pude observar a atitude dele antes e depois dessa experiência religiosa e o interessante é que agora ele é bem mais alegre e ao mesmo tempo sóbrio, parece que tem mais segurança, o pessoal disse que ele deixou o mundo e está muito feliz assim.
- E daí? Eu perguntei. O que isso tem haver comigo, se sou ou não pastor?
- Esse é que é o problema – disse ela – não sei se estou preparada para deixar o mundo.
Nesse momento a turma a chamou de volta para a reunião.
- Podemos falar sobre isso mais tarde se você quiser, mas por hora só quero te dizer algo antes que você vá pra lá – disse eu – deixar o mundo não é comprar um atestado de óbito, pelo contrário é assinar um contrato com a vida. Você observou bem, estou aqui com vocês mas não preciso agir como vocês agem, não preciso dizer palavrão pra me expressar, nem tampouco encher a cara pra ficar alegre, Jesus me completa. Creio seja isso que seu colega descobriu.
Não tocamos mais nesse assunto de maneira tão explícita, mas de uma coisa eu sei depois daquela conversa tenho servido de conselheiro, irmão mais velho, para eles. Eles têm me dito: “ o Libério é a consciência do nosso grupo”.
Não tenho aspirações para ser guru de ninguém e nem quero, mas quero poder gastar um pouco mais de tempo com esses jovens que são sem dúvida a futura liderança intelectual do Brasil.
Que o senhor Jesus me ajude a permanecer fiel à sua palavra.



José Libério Lino dos Santos