segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Dúvidas frequentes entre jovens estudantes e profissionais


Oi pessoal,

em meu trabalho entre estudantes universitários por esse mundo afora, tenho ouvido e assistido esses jovens nas mais diversas situações. É uma parte importantíssima da minha missão.

Esses meninos e meninas se preocupam com o futuro, com seus relacionamentos, suas trajetórias, enfim; se preocupam com a vida. São pessoas normais.

Os textos que seguirão abaixo reproduzirão um desses momentos. É de uma estudante, agora já formada e trabalhando, que abre seus questionamentos em um grupo de facebook, cujo qual eu pertenço. Você poderá ler sua queixa e em seguida a resposta que ofereci.

Lá no grupo, muitos de seus amigos interagiram e comentaram também, contudo reservo-me o direito de publicar aqui somente minha posição.

Se entender que deve, comente e compartilhe, quem sabe poderemos ajudar a outros como essa moça.

Ah! É claro que não citarei a identidade da mesma.

E vamos para além de mais uma fronteira.

Paz e Bem

Zé Liberio


Segue o texto da moça:


"Gente,
queria um opinião/conselho bíblico de vocês e quem sabe abrir um debate.

Todos prestaram FUVEST, alguns com mais esforço do que outros...
No meu ano de FUVEST, não tive uma base muito boa, então tive que renunciar muita coisa pra estudar, inclusive tempo com amigos, o que me fez perder amizades até e deixou muitas pessoas magoadas. Foi uma fase que perdi, que não vai mais voltar. Fico na dúvida, se talvez não poderia ter sido mais leve e eu ter estudado e só "deixado acontecer"

Agora tô nesta de concurso, e também, tenho que renunciar muita coisa... Trabalhar e estudar... E tô em uma dúvida...
Vejo que a maioria das pessoas que passa, se esforça muito. Por outro lado, vejo que os personagens bíblicos, Moisés, Daniel, José, chegaram às suas missões sem muito esforço, apenas aconteceu pelo plano de Deus. Assim, fico na dúvida se o correto seria só estudar e deixar acontecer.

Sinceramente, vejo que este tempo de concurso, tem acabado com meus relacionamentos pessoais, então fico pensando, se é só uma fase de nos estabilizarmos, ou se é errado que seja deste jeito, porque sempre vamos achar que é só uma fase. Por outro lado, tenho medo de afrouxar os estudos, e não ser uma pessoa esforçada a ponto de passar...
Vocês conseguiram me entender?

Por favor, opinem..."



Segue minha resposta:


Oi menina, li e reli seu texto queixoso e gostei.

a) gostei por você ter demonstrado ali, sua tranquilidade e coragem em repartir seus pensamentos publicamente. Isso é difícil! 

b) Vejo que estás tu preocupada com suas amizades. Isso também é bom, pois não vivemos sós nesse mundão de meu Deus. Amizades são construídas com a dedicação de bastante tempo para que elas permaneçam e sejam, de fato, boas amizades. Sem esse ingrediente básico, sem boas amizades. Simples, não?


c)  De fato, em nossa existência, sempre haverá etapas[i] a ser cumpridas e desafios a ser vencidos. Alguns chamam isso de fases[ii], eu não, as etapas e desafios não são necessariamente os mesmos, talvez nunca se repetirão, uma vez cumpridas etapas e vencidos os desafios propostos estamos prontos para o que virá de novo e agora, com a experiência do já vivemos. Digamos que vai ficando pouco-a-pouco mais fácil a “coisa”. Já nas fases sempre se repetirá um padrão, normalmente são cíclicos ex.: as fases da lua, as fases das regras femininas, as estações do ano, as fases do dia (manhã, tarde e noite), etc.
Creio que, entendendo esses aspectos, a caminhada se torna mais fácil. Contudo, sempre sentiremos o peso das decisões que urgirem tomarmos e, sem dúvidas, pagaremos o preço do caminho escolhido. Portanto, toda atenção será pouca nesses momentos de definição.

Agora, dizer isso: vejo que os personagens Bíblicos, Moisés, Daniel, José, chegaram as suas missões sem muito esforço, apenas aconteceu pelo plano de Deus."  Ai, ai, ai , hein? Me parece que você leu as respectivas histórias entre uma estação e outra do metrô. Hahaha.

 José, foi rejeitado por seus irmãos e condenado à morte. Seus primos fizeram uma grana com ele. Sua patroa queria fazer “potifaria” com o coitado e por conta disso foi parar na cadeia antes dos 30 anos, esqueceram ele por lá e provavelmente saiu de lá depois dos 30. Teve sua prova de fogo com o rei do Egito, se falhasse custaria a sua cabeça, passou. No final, olhar nos olhos de seus irmãos mau feitores, se revelar sem rancor e ainda louvar a Deus por tudo o que havia ocorrido, caramba. Quase sem nenhum esforço.


Moisés, nasceu num contexto de perseguição étnico-político. À primeira vista tinha se dado bem sendo salvo da morte. Abandona  sua “boa-vida” de funcionário público federal e se mete a ser o libertador de um povo que, sequer, o respeitava. Sua primeira tentativa de mudar o mundo sozinho lhe custou 40 anos de exílio. A segunda vez, já mais maduro, coloca seu intento em ação com a ajuda do Criador, ainda assim, por mais um período de 40 anos, e agora no deserto com um povo de “dura cerviz”.


Daniel, viu seu país ser destruído por uma violenta guerra em que perderam. Foi retirado de lá à força, colocado numa posição, no mínimo, ingrata. Enquanto seus compatriotas, ou estavam mortos ou servindo como escravos braçais ele foi separado para comer da mesa do rei. Rejeitou.  Foi colocado para ser o chefe geral sobre tudo o que era hostil à sua religião, todos os magos e encantadores da Babilônia, serviu em três reinados e jamais abriu mão de seu relacionamento com Javé (YHWH). Custou-lhe uma pernoite forçada no “Lions Palace Hotel” de Babilônia e quase virou comida dos funcionários do mesmo. Envelheceu cheio de visões que perturbavam seus pensamentos e nunca pôde voltar à sua terra natal. Vidinha tranquila!


De tudo isso concluo o seguinte querida irmã:

1-) Cumpra bem as etapas que te forem propostas.

2-) Decida bem, não se abstenha de decidir nunca pois essa, será uma decisão ruim.

3-) Prepare-se para pagar o preço das decisões que tomar. Ele vai ser cobrado. Sendo assim, nunca faça algo do qual venha a se arrepender posteriormente, nunca.

4-) Siga o exemplo desses homens que você mesma citou. Como? Veja a linha mestra que os une e a outras personagens não citadas aqui. Creio que todos eles sentiam e entendiam como José esse princípio básico de vida que foi registrado no Livro dos começos, chamado Gênesis, no capítulo 39 frase 9 parte B. Reproduzo:
“...como pois faria eu tamanha maldade, e pecaria contra Deus?”

5-) Aqueles homens, não estavam dispostos a pecar contra Deus e se esforçaram, apesar das circunstâncias, a viver inteiramente para a Glória dÊle e ponto final. Creio estar aí o segredo!

6-) Tenho me esforçado para seguir esse princípio, confesso não ser fácil, para que o meu trabalho continue a alcançar jovens como você e outros que transitam pelas famosas arcadas. Parece-me que tenho sido honrado pelo meu Senhor nisso. Agradeço!

7-) Fazendo assim menina, você atingirá, aí sim, uma nova fase. A da maturidade que sempre será requerida mais e mais durante toda sua jornada.


Paz e Bem
Zé Libério


[i] e·ta·pa 
(francês étape)

substantivo feminino
1. Lugar de paragem de um exército em marcha, de um grupo de corredores, ciclistas, etc.
2. Distância de uma destas paragens a outra.
3. Prova .esportiva que consiste em transpor esta distância.
4. Distância percorrida de uma vez. = JORNADA
5. Cada uma das fases de um processo ou de uma .ação. = ESTÁDIO, PERÍODO
6. .Fato extraordinário que domina uma época.
7. Fase de uma doença.

"etapa", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, 
http://www.priberam.pt/DLPO/etapa [consultado em 10-12-2013].


[ii] fa·se
(grego phásis, -eos, aparição de um astro, informação judicial)
substantivo feminino
1. Cada um dos diferentes .aspectos da Lua e de alguns planetas.
2. [Figurado]  Cada uma das modificações que se dão em determinadas coisas.
3. Mudança de .aspecto.
4. [Eletricidade]  Cada uma das correntes alternas que compõem uma corrente polifásica.
5. [Física, Química]  Cada uma das partes .homogêneas de um sistema físico-químico, conforme a coesão das suas moléculas (ex.: fase contínua, fase dispersiva).
Confrontar: face.


"fase", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, 
http://www.priberam.pt/DLPO/fase [consultado em 10-12-2013].

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Apartheid?







Meu pai, seu Gabriel, recebeu em 1967 um convite para ir trabalhar na África do Sul, naquela época, se inteirou da situação  do país e decidiu ficar com a família por aqui em Sampa. 

Eu, em 1979, apesar de ter me saído melhor no teste para o papel em determinada apresentação teatral não pude fazê-lo pois todos, colegas e professores, concordaram com a seguinte frase de alguém na disputa " não seria possível que eu fizesse o personagem pois não era da minha cor de pele". Comentei em casa e ouvi a história de meu  pai e sua justificativa. " Lá, África do Sul, teríamos um tratamento ainda muito pior. Em razão disso, decidi não ir."  

A partir daí, e por conta própria, comecei a estudar para entender o que de fato acontecia no mundo sobre essa questão tão simples e altamente explosiva na sociedade ocidental da segunda metade do século vinte e muita coisa ficou clara, uma delas é a realidade do apartheid em diversos níveis e locais sendo talvez a mais importante a seguinte: não há lugar, no mundo em que eu vivo, a aceitação das pessoas com cútis "branca" para que aqueles que são negros e afins estejam em posições de liderança ou destaque.  A não ser que seja no noticiário policial, ou numa partida de futebol, coisas de somenos. É uma afirmação bem simples e pra lá de fundamentada.

O problema é que não tratamos disso claramente. Camuflamos o assunto, o evitamos, desconversamos e fazemos cara-de-paisagem quando surge a questão. Certamente há exceções, e creio que posso contá-los nos dedos, especialmente no Brasil. 

Já em 1982 foi minha vez de receber o convite, não para trabalhar, mas para passear em África do Sul com uma família amiga como presente de formatura. Confesso que fiquei tentado só para ver a coisa de perto, meus pais nem quiseram discutir o assunto. Não fui  e ainda deixei meus presenteadores muito tristes quando fiz uma pergunta bem simples, "se a gente poderia passear pelas ruas de Johannesburg juntos como fazíamos em nosso bairro, ou eu seria apresentado como acompanhante de estimação ?" A família amiga, de origem grega, foi sem mim. 

Anos depois, já terminando o segundo grau, em uma conversa com uma colega que trabalhava em uma agência de empregos, na verdade ela era a filha do dono, recebi uma informação, no mínimo curiosa, mas impossível de ser provada. Foi assim: " muitas empresas que requisitavam pessoas para as suas vagas disponíveis colocavam, em off, o seguinte requisito: qualquer pessoa desde que, não seja de cor ou afins" e essa moça ainda disse o seguinte quando a questionei sobre ela não tomar uma providência: " se mexermos com isso, vamos à falência." 

Seguindo o pensamento de Tata Madiba, chamado Nelson Mandela, não pretendo aqui a defesa da opressão de um grupo sobre outro, mas sim, a possibilidade de vivermos com dignidade e em condições de igualdade não interessando a cor de pele que ostentamos. 

Nesse momento de aparente consternação popular e, nem tanto, preciso perguntar: Quantos secretários de estado o Estado de São Paulo, maior da nação, tem que são de origem negra? E a prefeitura da maior cidade do país? Creio que só o Netinho e ainda assim porque ele é bom de voto, senão já era. 
Pertenço ao seguimento chamado Evangélico Protestante Histórico e conheço ou, quase desconheço, líderes de influência de origem negra. Será que eles não existem? Será pura coincidência? 

Finalizo afirmando o seguinte: Não adianta ficarmos "faceboookeando" em solidariedade a Madiba se não pararmos de brincar ou, continuarmos a fechar os olhos para o nosso comportamento "apartheitico".

Paz e Bem

Zé Liberio